A Paisagem Lá Fora / Viagens Haicaísticas
José Lira
CrossingBorders
Edições do Autor
Recife 2015
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Mais uma vez me encontro com a produção de José Lira e cada vez mais me convenço de que se trata de um mago, e não apenas de um senhor do ofício das letras, aquele que vai alinhavando as palavras para atingir sentidos, delas e seus. Comecei a perceber isso nos livros clássicos do haicai traduzidos e editados por ele em outro selo, e agora, nest'A Paisagem Lá Fora, vou até à janela e constato "viagens haicaísticas" no bordão do trinca-ferro da vizinhança. E a cada "malhada" que ele dá, vou adentrando na obra do poeta-amigo, surpreso à primeira vista com a tecnica em estilo crônica devidamente recheada de haicais, mas aos poucos, no apalpar o chão com a alma palpitante, noto que tudo leva ao haicai e colho a primeira flor:
"Noite comprida:
Uma lâmpada apaga
Na enfermaria"
A seqüência não se me oferece por detrás das sombras, mas vou buscá-la no fundo mais fundo das solidões, aquelas eivadas de luzes fugazes, e José Lira me anuncia um livro de haicais escrito numa cama de hospital; colho mais uma flor:
"Vai-se o verão:
Outra manhã na praia
Sem um haicai."
Segundo José Lira, um amigo dele diz que "um haicai " "comum" é bom exatamente por não querer dizer ( nem precisa dizer ) nada além do que diz" e eis mais uma flor:
"Casa da sogra:
O caritó vazio
Numa parede."
Lembro de que preciso livrar-me dessa impertinência da flor e noto que José Lira falou em flor lá em algum lugar do passado. Ah, sim! Um jarro de flores e nega - "ou não são flores..." E pego a
"Rua da Aurora:
Do outro lado do rio
A meia-noite"
Mas A Paisagem Lá Fora dá-me cenas urbanas da Recife dos poetas e súbito
"Tarde no parque:
No meio do caminho
Tem uma pedra"
Sinto que nest'A Paisagem Lá Fora há muito mais do que a poesia zen-filosofada do bardo José Lira, nos convidando ao ócio digno do espírito:
"A velha rede
Balançando vazia:
Casa de praia"
Sem razão de ser o breque, preciso anunciar a saída, sem Drummond e com José, José Lira, n'A Paisagem lá Fora, que este livro se constitui de cenas, como num roteiro a ser gravado, sem um script na cabeça e nenhuma máquina na mão, pra deixar Glauber Rocha nas nuvens.
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Estou tento a grande oportunidade de ler esse livro e estou encantada com a fluidez, singeleza e profundidade. Estou aprendendo muito e estou intrigada com a pontuação :-)
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