segunda-feira, 4 de julho de 2016

A Paisagem Lá Fora / José Lira * Antonio Cabral Filho - RJ

A Paisagem Lá Fora / Viagens Haicaísticas
José Lira
CrossingBorders
Edições do Autor
Recife 2015
*
Mais uma vez me encontro com a produção de José Lira e cada vez mais me convenço de que se trata de um mago, e não apenas de um senhor do ofício das letras, aquele que vai alinhavando as palavras para atingir sentidos, delas e seus. Comecei a perceber isso nos livros clássicos do haicai traduzidos e editados por ele em outro selo, e agora, nest'A Paisagem Lá Fora, vou até à janela e constato "viagens haicaísticas" no bordão do trinca-ferro da vizinhança. E a cada "malhada" que ele dá, vou adentrando na obra do poeta-amigo, surpreso à primeira vista com a tecnica em estilo crônica devidamente recheada de haicais, mas aos poucos, no apalpar o chão com a alma palpitante, noto que tudo leva ao haicai e colho a primeira flor: 

"Noite comprida:
Uma lâmpada apaga
Na enfermaria"

A seqüência não se me oferece por detrás das sombras, mas vou buscá-la no fundo mais fundo das solidões, aquelas eivadas de luzes fugazes, e José Lira me anuncia um livro de haicais escrito numa cama de hospital; colho mais uma flor:

"Vai-se o verão:
Outra manhã na praia
Sem um haicai."

Segundo José Lira, um amigo dele diz que "um haicai " "comum" é bom exatamente por não querer dizer ( nem precisa dizer ) nada além do que diz" e eis mais uma flor:

"Casa da sogra:
O caritó vazio
Numa parede."

Lembro de que preciso livrar-me dessa impertinência da flor e noto que José Lira falou em flor lá em algum lugar do passado. Ah, sim! Um jarro de flores e nega - "ou não são flores..." E pego a

"Rua da Aurora:
Do outro lado do rio
A meia-noite"

Mas A Paisagem Lá Fora dá-me cenas urbanas da Recife dos poetas e súbito

"Tarde no parque:
No meio do caminho
Tem uma pedra"

Sinto que nest'A Paisagem Lá Fora há muito mais do que a poesia zen-filosofada do bardo José Lira, nos convidando ao ócio digno do espírito:

"A velha rede
Balançando vazia:
Casa de praia"

Sem razão de ser o breque, preciso anunciar a saída, sem Drummond e com José, José Lira, n'A Paisagem lá Fora, que este livro se constitui de cenas, como num roteiro a ser gravado, sem um script na cabeça e nenhuma máquina na mão, pra deixar Glauber Rocha nas nuvens.
*

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Haicai Doojin / Benedita Azevedo * Antonio Cabral Filho - RJ

Haicai Doojin
Benedita Azevedo
Araucária Cultural
***
Caros, bom dia.

Editado no final do ano, HAIKAI DOOJIN, livro de haicais
de Benedita Azevedo, está sendo lançado.

BENEDITA AZEVEDO É HAIKAI DOOJIN – José Marins

     Haikai Doojin quer dizer “companheira de haicai”, assim é
Benedita Azevedo, a poeta.  Mais um livro seu de haicais feitos
a partir de vivências na Praia do Anil, onde reside em Magé-RJ. 
São 113 poemas que foram publicados inicialmente na coluna
Haicai Brasileiro do Jornal Nippak. Haicais que nos aproximam
da natureza, dialogam com o leitor numa linguagem simples,
mostrando imagens que passariam despercebidas não fosse 
a percepção treinada da autora e sua fina sensibilidade poética.
     Destaca José Marins desse livro: “A compaixão pelos seres da 
flora e da fauna, o apreço pelo lugar e o amor pelos humanos, 
motivam-na em seu fazer poético, registros diários de vivências. 
Seus poemas acolhem desde a borboleta que morre com as folhas 
secas, o pé de camélia na vala, ao jovem traficante morto. A autora 
escreve para todos os leitores através da linguagem de um haicai 
despojado.”
     Ler mais esse livro de Benedita Azevedo é um privilégio e um
prazer para quem ama a poesia do haicai.

Eis alguns dos poemas do livro:
-
Caindo do galho
a borboleta de inverno
junta-se às folhas.
-
O pé de camélia –
boiando na vala negra
as flores branquinhas.
-
Jovem traficante –
Chegam para o velório
os lírios-da-paz.
––––

PARA ADQUIRIR O LIVRO ESCREVA À AUTORA EM:



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